Estudo OFERTAS E DÍZIMOS (por Fábio Barbosa "não revisado")

 

Introdução

 

Paulo em sua carta a Tito afirmou:

Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se desses também (2 Tm 3.1-5).

 

Estamos vivendo esse tempo! Multidões tem seguido esses homens de que fala Paulo, alguns procuram genuinamente e caem em armadilhas outros procuram satisfazer seus desejos na religião e saem mais frustrados do que quando chegaram. Dentre os temas mais explorados por esses líderes religiosos de nosso tempo está o tema da “oferta e dízimos” sugerem todo tipo de interpretações, segundo o seu bem querer. É a partir dessa preocupação que pretendo abordar essa questão para que de alguma forma estejamos esclarecidos em relação a este assunto no desejo que o Espírito Santo nos guie a toda a verdade (Jo 16.13). Iniciaremos procurando responder à pergunta: O que é a oferta no sentido bíblico? em seguida, a fim de que cresçamos em nossa proposta de entendimento abordaremos as seguintes questões: Por que devemos ofertar? Qual a nossa motivação ao ofertar? Logo após essas perguntas serem respondidas, acredito podermos fazer algumas afirmativas como : As ofertas demonstram o caráter cristão; Os resultados da oferta em nós e nos beneficiados por ela;  e concluímos essa parte com o tema: Jesus e a oferta. Para chegarmos ao final de nossa jornada, abordaremos um tipo de oferta que nos é muito familiar na prática “dízimo” mas, que no entendimento carece de compreensões. Espero que esse estudo sirva de “aperitivo” para um maior aprofundamento do assunto e um início para um diálogo bíblico.

                      

 

 

A oferta na bíblia

Oferta é “oferecimento, oblação, oferenda” (Pequena Enciclopédia Bíblica.O.S.Boyer). Na bíblia podemos encontrar logo de início um episódio envolvendo a prática da oferta, nessa primeira menção da oferta na bíblia não sabemos o que levou Caim e Abel a trazer a oferta, o que percebemos é que eles “trouxeram” sugere que levou a algum lugar para alí apresentar a Deus (Gn 4.3-4). Não existe nesse relato uma orientação, mas fica subentendido isso quando Caim leva a algum lugar para apresentá-la. O que nos é dito é que “Deus recebeu a oferta de Abel e rejeitou a de Caim”, o texto de Gênesis não explica, mas IJo 3.12 e Hb 11.4 demonstra-nos que Deus observou os caracteres dos ofertantes “ Caim era do maligno e Abel ofereceu sua oferta por fé”.

Na bíblia podemos encontrar um livro que se inicia com prescrições sobre ofertas, o livro de Levítico, as prescrições alí apresentadas tinham o objetivo de demonstrar a maneira como o adorador podia se aproximar de Deus e isso acontecia por meio das ofertas, Deus falava da tenda da congregação, da nuvem do propiciatório no santo dos santos e com a oferta o adorador se aproximava dEle. Já de início é importante que percebamos que na bíblia a oferta não tinha o objetivo de apaziguar a ira de Deus, como acontecia com outras religiões na prática de suas “Oferendas aos deuses”, nas Escrituras ela é uma resposta de gratidão a Deus por tudo que Deus tem feito por seu povo. Em levítico as ofertas foram organizadas conforme a ordem de Deus dada a Moisés, da tenda da congregação (Lv 1.12), pode-se perceber ali que ela é “uma parte vital da comunhão com Deus” (Ex25. 2; Rm 12.1). A oferta sempre visa o relacionamento com Deus, isso acontece em todas elas, quem é beneficiado é o ofertante: Isso aconteceu lá no Gênesis (4.4) com Abel, em Ex 25.1-2 quando se começam os preceitos para o culto dos israelitas, as ofertas alí eram oferecidas a Deus, mas o seu benefício seria a construção da tenda da congregação “o tabernáculo”, o lugar onde Deus habitaria “E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles” (v.8), para os israelitas, nesse caso são ofertas voluntárias “de todo homem cujo coração o mover para isso” (Ex 25.2).

Podemos ver que com o lugar de Adoração, Deus então estabelece cinco tipos de ofertas: 1) O holocausto; 2) A oferta de Manjares; 3) A oferta Pacífica; 4) Pelo pecado; 5) Pela culpa. Todas as ofertas tinham algo em comum e simbolizavam algum aspecto da vida.

1.    A oferta de “Holocausto”. Significava a dedicação completa a Deus daquele que a oferecia. Do hebraico ‘olah’ cujo significado básico é “fazer subir em fumaça”, uma oferta total. Nossa palavra “holocausto” significa “totalmente queimado” (Lv 1.1-17).

2.    A oferta de Manjares. (heb. Minhah) era uma oferta de homenagem  que significava uma promessa de leal obediência a Deus (Lv 2. 1-16).

3.    A oferta Pacífica. (heb. shelem/ da raiz traduzida “paz, saúde e inteiro”. Falavam de inteira dedicação da parte do ofertante e da paz com Deus a quem as oferece (Lv 3.1-17).

4.    A oferta pelo pecado. Este tipo de sacrifício era necessário para expiar pecados específicos. O grau da culpa e a qualidade da oferta variavam de acordo com a posição e a responsabilidade do pecador, por isso temos: O sacrifício pelos pecados por ignorância dos sacerdotes (4.1-12); os sacrifícios pelos pecados por ignorância da congregação (4.13-21); os sacrifícios pelos pecados por ignorância de um príncipe (4.22-26); os sacrifícios pelos pecados por ignorância de qualquer pessoa (4.27-35).

5.    A oferta pela culpa. Esse sacrifício era semelhante ao da oferta pelo pecado, indicando ao homem a sua culpabilidade. No heb ‘ashâm’ que quer dizer “culpa” no sentido de danos e estragos (Lv 5-6.7).

É claro que a preocupação primordial de Deus não eram os elementos da oferta (ouro, prata, animal morto, produtos da terra), sua preocupação maior era com a motivação/ atitude do ofertante e sua fidelidade à aliança “Ainda fazeis isto: cobris o altar do Senhor de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão” (Ml 2.13) eles haviam quebrado a aliança com Yaveh e agora Ele os acusa de assaltar (roubar) as ofertas, ou seja, de não prestar-lhe honra (Ml 3.8).

Por que devemos ofertar?

Talvez a pergunta que fizemos não seja a ideal, visto que ao olharmos para o Novo Testamento o ato de ofertar é um meio de identificação com Deus, ao nos doar, nos tornamos como Ele, manifestamos na própria vida o caráter de Deus, não seria então o dever, mais sim, a manifestação do caráter de Deus em nós, é uma consequência   Deus amou tanto o mundo, que deu [...] (Jo 3.16), sendo assim, temos o modelo da oferta, o próprio Deus. Se é certo que faremos isso como regenerados, o quanto vamos ofertar deverá ser orientada pelo Espírito Santo. Nossas contribuições devem brotar de nosso amor a Deus e de um conhecimento adequado das necessidades deste mundo. É bom lembrarmos que como seguidores de Cristo, somos guiados e motivados a contribuição pelo Espírito Santo. A oferta na bíblia é generosa e orientada para os outros, imitando a vida sacrificial de Jesus.

 

Qual a motivação ao ofertar?

Pelo que temos verificado, a motivação para a oferta deverá ser a “graça de Deus”. Paulo quando fala da contribuição feita pelas igrejas na Macedônia aos irmãos em Corinto, coloca como motivação para a contribuição a “graça de Deus, concedida” [...] (Rm 8.1), o sustento e avanço da obra do Senhor e o socorro aos irmãos deve ter como modelo essa atitude de Deus. Essa mesma graça (v.9) levou Jesus Cristo a se encarnar e morrer. Os capítulos 8 e 9 de II Coríntios talvez possa ser chamado de “o capítulo da teologia das ofertas” pelo fato que nos esclarece muitas questões importantes na atitude que devemos ter ao ofertar. Vejamos:

 Paulo diz (8.3) que uma das características da oferta é a “voluntariedade”, na versão ERA [...]se mostraram voluntários” e na NTLH [...] e, com toda boa vontade” e no texto grego auqairetoi = espontaneamente (Novo Testamento Interlinear).

Outra característica da oferta é a “generosidade” gr. haplotetos<singeleza> (simples, puro, natural, sincero, inocente. Priberam), em Romanos 12.8 ele usa a mesma palavra “aplothti” = generosidade para dar <sem calcular>, livre de motivos egoístas. Paulo ainda afirma que nossa “dádiva” (ofertas) deve ser uma expressão de generosidade ( IICoríntios 9.5)

Outro aspecto da oferta que devemos nos atentar é que ela põe à prova a “genuinidade do nosso amor” (IICo 8.8) ela não é imposta ou exigida, ao contrário, surge de um coração cheio de amor a Deus e ao próximo, cumprindo assim o primeiro e segundo mandamento (Mc 12.33), nesse caso de II Coríntios 8 vemos que a graça de Deus atuou de maneira profunda a ponto de levarem os irmãos a pedir [...] com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos” (II Coríntios 8.4). Paulo ainda fala que a “Boa vontade” (que no texto original pode ser traduzido como “prontidão está presente” II Coríntios 8.12), é tão importante quanto a oferta.

 Depois de tudo isso afirmado o apóstolo conclui dizendo que o objetivo é que haja igualdade (II Coríntios 13-15) e para afirmar seu posicionamento ele se utiliza do texto de Êxodo 16.18. Seu objetivo não é que haja igualdade no sentido de posses e sim que estejam livres de necessidades básicas afastando os necessitados da miséria (8.14) e desenvolvendo neles o espírito de gratidão (9.12).

 

A oferta e o caráter cristão

Nossa época enfrenta um grande desafio “o de alcançar os que já foram uma vez alcançados”, teremos o desafio de instruir e de explicar com mais intensidade os princípios da palavra de Deus àqueles que fazem parte da comunidade cristã evangélica, isso porque como podemos constatar, o distanciamento ao qual temos chegado daquilo que entendemos ser o Evangelho e daquilo que Ele realmente é, a cada dia  se torna mais evidente, percebemos uma tendência crescente de pessoas que se intitulam “cristãs” mas vivem e pensam como os “pagãos” à sua volta, essa atitude no meio da cristandade tende a influenciar o nosso modo de entender assuntos bíblicos e desenvolver  nossas “práticas espirituais”. Se é certo que quando entregamos nossa vida a Cristo passamos a desenvolver seu caráter em nós, a maneira que Ele enxerga essas práticas deve ser também a nossa.

Portanto, no que diz respeito a oferta, devemos nos lembrar que duas coisas devem estar envolvidas quando ofertamos: “Alegria e Sacrifício”. Se considerarmos a oferta como resposta de gratidão pelo que Deus tem feito, não podemos fazê-la com pesar mesmo sabendo da dificuldade que temos em renunciar nossos recursos, quando Paulo diz [...] porque Deus ama a quem dá com alegria” (II Coríntios 9.7) o termo “hilarión” = “com alegria” seria melhor traduzido “com alegria de alguém que faz tudo para agradar a Deus”. O texto de Samuel 24.24 informa-nos que Davi ao fazer a oferta a Deus disse que não ofereceria a Ele “holocaustos que não me custem nada” em Levítico “holocausto” era oferta que significava a dedicação completa a Deus daquele que a oferecia. A seguir listamos quatro motivos pelos quais tanto a alegria como o sacrifício são necessários na vida cristã segundo Scott Rodin (p.16.1995).

1.    Ofertamos para declara quem é nosso Deus e o que Ele significa para nós;

2.    Ofertamos para que haja em nossa vida um equilíbrio entre este mundo e o mundo por vir;

3.    Ofertamos para sermos obedientes à Palavra de Deus e;

4.    Ofertamos para participarmos da evangelização mundial.

Como cristãos, devemos descobrir o que Deus espera que façamos com nossos recursos para que nossas decisões nessa área como em todas as outras não estejam baseadas em considerações pessoais, e sim dentro da proposta estabelecida por Deus na sua palavra. Vejamos alguns princípios que devem nortear a nossa prática:

a.    Periódica. A coleta deveria ser feita no primeiro dia da semana (I Co 16.1,2). Isso nos dá a entender que a oferta deveria ser levada à igreja no dia em que ela se reunia para o culto.

b.    Pessoal. A oferta deveria ser de cada indivíduo “cada um de nós”. O que demonstra que era pessoal.

c.    Separação diária. Aqueles que recebiam diariamente o faria no dia. Se trazermos para nossos dias em que as pessoas recebem mensalmente, poderíamos fazê-lo no primeiro Domingo após o pagamento.

d.    Proporcional. A oferta deveria ser “conforme a sua prosperidade”, indicando que os que possuíam mais bens deste mundo deviam subscrever a maior parte das despesas da igreja.

e.    Integridade. A oferta deve também, depois de tudo acima realizado, ser tratada com integridade. Observe nos vs 3,4 de II Co 16 que Paulo lança para a igreja a tarefa de quem ficaria responsável por levar os recursos aos irmãos em Jerusalém “aqueles que aprovardes” e “se convier que eu também vá [...].

 

Os resultados da oferta em nós e nos outros

É bom que saibamos que a oferta não só beneficia quem a recebe (nós a dedicamos a Deus, mas ela é direcionada ao próximo) mas também aquele que dá. Paulo faz questão de mostrar isso no capítulo 9.6-15 de II Coríntios, se olharmos, anteriormente, no capítulo 8 ele havia acabado de abordar o assunto da contribuição e agora ele pretende mostrar que todos são beneficiados. Jesus mesmo disse que tanto o necessitado que recebe com gratidão quanto o doador receberão bênçãos sem medida da parte de Deus (Lc 6.38). Paulo cita uma frase que Jesus falou e que não está registrada nos evangelhos “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20.35). A lei da devolução opera também no mundo espiritual e moral e não somente no mundo físico. Quando Paulo diz [...] trabalhando assim é mister socorrer aos necessitados” está nos ensinando o princípio que “O Evangelho nos ensina a compartilhar e não amontoar, nos ensina a fazer o bem e emprestar sem esperar nenhuma paga” (Lc 6.35), tanto a recompensa “gr. charis” (Lc 6.33) quanto o galardão (Lc 6.35) vêm de Deus, quando   fazemos assim (Lc 6.33-35) demonstramos nosso parentesco divino “sereis filhos”.

Podemos contar com o amor de Deus. É importante lembrarmos que devemos fazer com alegria, quem assim o faz conta com o amor “ágape” de Deus (II Co 9.7), ao olharmos esse versículo podemos perceber que há um interesse de Deus em relação a esta pessoa que faz assim, poderíamos dizer que Deus olha com carinho a motivação desse coração “pode Deus toda graça fazer abundar” (II Co 9.8), a versão NTLH “E Deus pode dar muito mais do que vocês precisam”.

Deus promove contentamento. Outra ação que Deus promove em nós é o sentimento de “contentamento” que Paulo cita como “toda suficiência tendo” no gr. pasan autarkeian ecountez, essa palavra que os filósofos “estóicos” gostavam muito (autarkeia=suficiência) designava o homem completamente satisfeito com o mínimo das cousas materiais, Paulo seguia esse princípio segundo Filipenses 4.11 “satisfeito em toda e qualquer situação” o termo aqui é autarkes=satisfeito. Só é capaz de ser generoso quem se sente contente com o que tem e é por isso que ele pode “super abundar em toda boa obra” (II Co 9.8), que Paulo vai dizer em Efésios que é para isso que fomos criados em Cristo Jesus [...] para boas obras” (Ef 2.10).

Deus há de suprir e aumentar os recursos e multiplicar os frutos, há de crescer aquele que dá com generosidade; o Salmo que é citado por Paulo no versículo 9 é o 112.9 que é um acróstico que descreve os caminhos do homem de Deus. 

Quanto aquele que recebe a assistência/donativo/oferta, eles são cativados a dar graças a Deus (11,12) e a orar com amor em favor dos que dão. O v.14 denota uma oração com muito carinho por aqueles que contribuem. Enfim, Paulo agradece a Deus pela salvação “o indescritível dele dom” (14) que á a motivação perfeita para incentivar todo e qualquer dom!

Jesus e a oferta. É importante observarmos as relações de Jesus diante das situações que envolviam a prática da oferta, visto que, se a oferta era parte do culto no judaísmo e Jesus está em constante confronto com os líderes religiosos judeus, certamente Ele tem um entendimento correto nesse assunto (como em todos os outros) e será a partir de suas palavras que aplicaremos esses princípios. Vejamos!

O primeiro texto em que encontramos Jesus lidando com este assunto está em Mt 5.23, onde Ele está ensinando a respeito da ira no coração, é no interior que se inicia o problema. Jesus equipara o assassinato ao ódio e a vingança, sendo para ele assassinato no coração. Ao incluir a oferta nesse assunto Jesus está dizendo que não pode se dissociar a prática do culto (aqui ele utiliza o ato de ofertar) com o que está no coração, certamente Jesus está se referindo as ofertas prescritas na Lei, sendo a oferta um meio de aproximar de Deus (segundo entendido no A.T), Jesus então está afirmando que é necessário reparar o interior ao se apresentar diante do altar.

Em Mateus 8.4 Jesus parece enxergar a oferta como “testemunho”. Ela seria realizada como testemunho da cura, era o que se fazia nas prescrições de Lv 14. Quando ofertamos testemunhamos que Jesus é o nosso Senhor.

Em Mateus 15.1-6 Jesus demonstra o perigo de a oferta se transformar em “recurso de escape” para não se obedecer a Deus. Essa oferta que Jesus cita era chamado “Korban” que significa “oferenda”, Quando um Judeu fazia essa declaração seus bens passavam a pertencer ao templo, seriam registrados em nome do templo. O problema era que essa declaração era falsa, por isso que Jesus está denunciando essa atitude e demonstrando que suas tradições suscitaram maneiras de desobedecerem a lei, o método invalidava a palavra ( cf. Mc 7.11-13).

Em Mateus 23.18 temos mais uma vez o exemplo de como os escribas e fariseus invalidaram a lei, agora com seus juramentos levianos. A oferta mais uma vez era utilizada pelos religiosos para mascarar o coração.

 

Porque devemos ter Cristo como exemplo para ofertar? Sem dúvida, a disposição ao ofertar deve ser a mesma que Cristo teve ao ser “oferta” por nós. Em Efésios 5.2 Paulo se refere a atitude de Cristo “se entregou a si mesmo como oferta” no gr. “prosforan”=aquilo que é trazido, ofertado, dom, oferenda. Outro texto que podemos utilizar como exemplo para nossa atitude como ofertante a partir da atitude de Cristo é Hebreus 10.5-10, esse capítulo está falando da expiação feita por Cristo que foi divina e permanente, no entanto, o versículo cinco mostra a preocupação de Deus quando fala dos sacrifícios e ofertas (a mesma palavra usada em Ef 5.2 =prosforan). A preocupação de Deus não era com o sacrifício e oferta em si, mas na devoção e obediência do coração, o que é demonstrado também em I Samuel 15.22.

O DÍZIMO

Nessa parte do nosso estudo deixamos para tratar do dízimo separadamente pelo fato que em nosso tempo ele tem gerado constrangimentos e debates que tem levado a comunidade cristã para longe das Escrituras, isso porque, em muitos casos esses questionamentos surgem de corações não regenerados e insensíveis à verdade, outras vezes, porque pessoas que foram abusadas em suas consciências e que frustradas reagem de maneira direta a qualquer assunto que pareça com o dízimo. Não desejo aqui solucionar todas as questões e não é minha pretensão, apenas espero dar a minha contribuição àquilo que considero importante nas escrituras.

O dízimo é uma exigência bíblica. A questão geralmente é a seguinte: O dízimo é para a igreja ou somente para o antigo povo de Deus (Israel)?

 

Vamos começar do início

A primeira menção ao dízimo antecede a aliança com Abraão e ele aparece na bíblia sem nenhuma ordem e explicação, encontramos seu registro em Gênesis 14.20 “e de tudo lhe deu Abrão o dízimo”, aqui seria o dízimo (10%) dos despojos. No mesmo livro do Gênesis (28.20-22) encontramos o neto de Abraão tentando fazer um trato com Deus e nesse acordo ele inclui o dízimo “certamente eu te darei o dízimo”. Embora não registrado nas escrituras a atitude desses patriarcas demonstra que havia uma consciência desse tipo de contribuição. No último capítulo de Levítico (27) temos uma afirmação categórica da Lei mosaica sobre o dízimo “todos os dízimos pertencem ao Senhor”. No livro de Números (18.21-32) informa-nos que os dízimos foram dados aos filhos de Levi por herança “pelo serviço que prestam” e os levitas por sua vez deveriam apresentar sua oferta dos dízimos recebidos “os dízimos dos dízimos” (26), mostra também que a oferta dos levitas era tão merecida quanto os despojos de guerra, fazendas e territórios, lucros do comércio e da indústria que as tribos possuíam (30). Vemos também o cuidado para com o uso dos bens e dinheiro oferecidos à causa de Deus, deveriam ser usados dentro daquilo que o próprio Deus ensinou (32) se não, dá se ocaso de roubar (assaltar) ao Senhor. Os sacerdotes e levitas deveriam lembrar-se que eram mordomos dos bens consagrados a Deus. Quando o povo de Israel está prestes a entrar na terra da promessa, Moisés reafirma a entrega do dízimo (Dt 14.22-29) aplicando sua forma de entrega e uso à nova realidade: seria colocado onde habitasse o “nome do Senhor Teu Deus” (23; Dt 12.11; Ml 3.10; Am 4.4), presume-se desse versículo que o ofertante podia comer uma pequena parte do mesmo pela festa de comunhão no santuário. Outra observação aqui é que em algumas situações o dízimo poderia ser transformado em dinheiro para melhor ser transportado (24/25) até o lugar que “o Senhor teu Deus escolher”. Ele atenderia: o sustento do trabalho ministerial (27) e o alívio das necessidades de outros (29) e o dizimista contaria com a benção de Deus sobre as obras que suas mãos fizerem.

Durante o período da Monarquia um dízimo adicional parece ter sido cobrado com fins seculares (I Sm 8.15-17), um ônus que foi alertado por Samuel. É claro a constatação que  quando Israel se apartava do seu Deus, as ofertas e dízimos era negligenciadas.  Ezequias regulou as contribuições quando realizou a reforma e restabeleceu os sacrifícios no templo (II Cr 31.2-6) em Jerusalém. Outra renovação aconteceu na época de Neemias na reconstrução da cidade depois do cativeiro (Ne 10.37-39), podemos perceber aqui que: a renda do povo “o vinho e o azeite” (v.37) era calculado em víveres devido a economia agrícola, portanto, o dízimo seria cobrado na base daquilo que as pessoas tinham em mãos, o mesmo princípio é usado para a oferta em II Coríntios 8.12, podemos perceber do v.39 que a preocupação estava ligada à casa de Deus, ela não poderia ser desamparada, essa exigência era para o povo e para os levitas. Outra observação que podemos fazer aqui é: o dízimo não era imposto pago, pois nesse caso, como estaria a Monarquia durante este período de negligência do povo? Se era um dízimo cobrado poderia ser então um dízimo adicional, não aquele levado ao centro do culto. Ao compararmos com o texto de Hebreus (7.1-10) o autor parece enfatizar o dízimo como uma taxa religiosa, pois alí está sendo enfatizado Melquisedeque o sacerdote como o tipo de Cristo. Quando da reforma de Neemias, os levitas haviam deixado seus postos para cuidar de si mesmos, no entanto, Neemias os estabelece às suas funções e passam a ser sustentados com os dízimos que o povo trazia (Ne 13.5, 12,13). Em Malaquias 3.6-12 encontramos uma reclamação de Deus contra o seu povo que deixaram de reconhecê-lo como Senhor. Os dízimos e ofertas haviam sidos negligenciados e agora Deus os questiona “Roubará o homem a Deus?” e Deus mesmo responde “Todavia vós me roubais” (v.8). Deixaram de reconhecer a Deus ao deixarem a devoção e lealdade, obediência e respeito devido a ele, o que como povo de Deus (Gn 1.3) deveriam lhe oferecer. Podemos é claro, perceber que essa negligência nas coisas materiais é resultado do distanciamento já nas questões espirituais, ao leitor atento há de se perceber isto nesse livro como em outras passagens que foram relacionadas aqui.

 

Vejamos agora o que o Novo Testamento tem a nos dizer.

Visto que toda a escritura tem sua centralidade na pessoa de Cristo Jesus, podemos então, iniciar procurando descobrir como Jesus tratou a questão do dízimo.

Jesus e o dízimo. Não encontramos muita evidência quanto a atitude de Jesus em relação ao dízimo, especificamente encontramos dois registros a respeito (Mt 23.23; Lc 11.42), esses dois textos mostram Jesus criticando os mestres da lei e os fariseus por causa de suas atitudes hipócritas, eles eram zelosos em alguns pontos da lei, porém, negligenciavam outros mais importantes.

Outro texto em que Jesus cita o dizimo é o de Lc 18.9-14, uma parábola que Ele contou, alí o fariseu está se auto-justificando por duas práticas religiosas: o jejum duas vezes por semana e o dízimo de todas as coisas que adquiria; é certo que Jesus não estava discutindo sobre dízimo, mas certamente os fariseus chegaram a acreditar que eram justificados por essa prática, Jesus corrigi esse ensino dizendo que essa prática não garante a justificação de ninguém (v.12).

Sendo o nosso padrão/referencial Jesus, não encontramos ele abolindo a prática do dízimo, certamente seu silêncio nesse assunto demonstra que aceitava sua prática desde que acompanhada do seu entendimento correto, o que também podemos inferir que como bom judeu e carpinteiro dificilmente teria algum respeito em Nazaré, caso não desse o dízimo. Ainda em relação a Jesus, o autor aos Hebreus quando fala sobre a superioridade do sacerdócio de Jesus em relação ao de Arão, ele vai recordar sobre o dízimo pago ao representante de Jesus (Hb 7.2-10), alí ele diz que Levi ( o sacerdócio) em Abraão, pagou o dízimo (10), a idéia que o autor chega é que o sacerdócio de Melquisedeque foi superior ao de Levi e ele demonstra alguns pontos, dentre eles que Melquisedeque recebeu dízimos de Abraão e tomando em conta a solidariedade entre filhos e pais, também de Levi. A mudança que Hebreus trata, certamente não é a do dízimo, pois a mudança na lei não invalida a exigência do dízimo, mas da mudança de um sacerdócio temporário e falível de Arão para um sacerdócio eterno de Jesus ( Hb 7.21-25).

O dízimo e a igreja em Jerusalém. No registro de Lucas em Atos não encontramos informações sobre se os crentes davam ou não o dízimo. Não temos nada que possa afirmar ou negar a prática do mesmo, estes convertidos, provavelmente davam os dízimos para os levitas no templo, pois, até então, a igreja ainda não tinha se separado do judaísmo (At 21.20). É provável que a forma utilizada por eles é o registrado no capítulo 2.44 de Atos “tinham tudo em comum” e à medida que houvesse necessidade, compartilhavam tudo com todos, Lucas até cita dois exemplos dessa disposição, um positivo “Barnabé” (4.36,37) e outro negativo “Ananias e Safira” (At 5.1-10). Pelo que parece, essa forma de lidar com as necessidades uns dos outros, embora tenha brotado do cuidado que tinham uns pelos outros e motivada pela consciência de que o tempo era curto, pois logo Jesus voltaria, levou por esvair os recursos e a igreja empobreceu, levando a igreja em Jerusalém a depender de donativos de outras igrejas (At 11.27-30; Gl 2.10).

Paulo e o dízimo. Uma das questões que aparecem nesse assunto é: Qual seria a razão para o silêncio de Paulo sobre o dízimo? Não nos é possível afirmar coisa alguma categoricamente, podemos sugerir algumas idéias como: O dízimo era praticado por todas as igrejas e não havia problemas em relação a esse ponto. Uma segunda sugestão seria que: ou as ofertas excediam os dízimos, como aconteceu em Jerusalém, ou eram inteiramente voluntárias voltadas para questões específicas como a que acontecia com as viagens missionárias de Paulo e as necessidades dos irmãos em Jerusalém devido a fome que se abateu (At 11.27-30) e ofertas especiais que Paulo levantou para os pobres em Jerusalém (II Co 8-9).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

BOYER,O.S. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo: Vida,1996.

HUNTER, Todd. D. DÊ OUTRA CHANCE À IGREJA. Encontrando novo significado nas práticas espirituais. Viçosa : Ultimato, 2012.

REGA, Lourenço Stelio. Noções do Grego Bíblico. 4ªed. São Paulo: Vida Nova, 1995.

STURZ, R. J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2012.

NOVO TESTAMENTO Interlinear Grego Português. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.

Bíblia Vida Nova. 15ªed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1991.

STOTT, J.; WRIGHT, C.A GRAÇA DE CONTRIBUIR. O dinheiro e o evangelho. São Paulo: Vida, 2018.

 

 

                                             

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